segunda-feira, 29 de março de 2010

Mergulhamos na Balsa Bravamar-X

(Mergulhador no Naufrágio Bravamar-X, Fortaleza-CE)


    Aproveitando a temporada de águas limpas que chegam ao litoral cearense mergulhamos em alguns pontos de grande interesse neste fim de semana. Destes podemos destacar o mergulho realizado na balsa Bravamar-X que afundou em setembro de 2009. 
    Apesar da boa visibilidade nos primeiros metros, no fundo não chegava a mais que 2m. Descemos por um cabo preso a um dos cabeços de amarração na proa que se mantém muito bem conservada voltada para noroeste. A balsa está deitada no fundo em posição de navegação. Por bombordo logo observamos os buracos feitos no casco pela equipe de savatagem. Alguns tambores de plástico presos por redes evidenciavam um trabalho pouco minuscioso. A popa está bem danificada.
    A vida marinha começa a povoar o novo naufrágio que já está coberto por "cracas". Pequenos peixes e lagostins já o utilizam como abrigo. 
    Segundo o vigia que a meses reside em um pequeno veleiro ancorado sobre o naufrágio, uma equipe de Pernambuco está vindo para inspecionar a embarcação e decidir sobre seu futuro. Dificilmente ela será reaproveitada. 
    Mergulhadores e pescadores esperam anciosos por este ponto!


Nome: Bravamar-X
Data: 28/08/2009
Profundidade máx.: 11m
Tipo: Balsa de Transporte
Estado: Inteiro
Dimensões aprox.: 20m x 7m x 2m
Visibilidade: 0m - 2m


Mergulhadores:
Leornardo, Luciano, Marcus, e Régis


Texto e Fotos:

quarta-feira, 24 de março de 2010

Fauna Marinha Cearense - Arraia-Manteiga

Nome Comun: Arraia (ou Raia) Manteiga, Arraia Lixa

Nome Científico: Dasyatis americana

Família: Dasyatidae

Distribuição Geográfica: 
São normalmente encontradas deitadas no fundo e cobertas pela areia. De hábitos bentônicos, costeiros e de águas rasas, eventualmente podem adentrar em estuários e até mesmo subir rios de água doce. Encontrada nas água tropicais do Atlântico, ocorre em todo o litoral brasileiro. 

Descrição: 
Apresenta dorso marrom-claro ou acinzentado, sua coloração pode variar de acordo com o substrato. Apresenta uma mancha clara a frente dos olhos e ventre sempre muito pálido. Possui corpo rombóide com focinho, cabeça e parte inferior das nadadeiras peitorais formando uma pirâmide. Não possui nadadeiras dorsais. Apresenta uma cauda longa e afilada onde, na base, existe um esporão para defesa em formato de serra da qual libera uma peçonha capaz de matar um homem.  
Pode chegar a 3 metros de comprimento e 2 metros de largura em 112kg. É uma espécie ovovivípora que produz 2 a 4 filhotes por gestação.Seus filhotes nascem com cerca de 30 cm.
Alimentam-se principalmente à noite de moluscos, vermes, crustáceos e pequenos peixes. 


Foto:
Marcus Davis (Arraia Manteiga, Naufrágio Macau, Fortim-CE)

Fonte:

terça-feira, 16 de março de 2010

Novo Naufrágio no Ceará - "BRAVAMAR-X"

    Em setembro de 2009 afundou em frente a Praia de Iracema uma Balsa - tipo de embarcação sem motor utilizada para transporte de materiais ou equipamentos - aproximadamente 1,5km da praia. Uma empresa de mergulho profissional foi contratada para faze-la flutuar novamente e reaproveita-la. Após meses de trabalhos submersos os proprietários desistiram da operação em virtude dos altos custos envolvidos. Foi então constata a perda total da balsa "BRAVAMAR-X" e Fortaleza ganhou mais um naufrágio.

    Atualmente encontra-se ancorado um pequeno veleiro a fim de sinalizar o local do naufrágio e evitar acidentes com outras embarcações. Em breve a marinha deve providenciar uma bóia de sinalização para o local. Segundo mergulhadores que já estiveram no local, o naufrágio já está sendo povoado por um grande cardume de xilas.

    Apesar de termos nos equivocado quanto ao nome da balsa, em setembro o MAR do CEARÁ noticiou o afundamento no artigo Objeto Não Identificado na Orla de Fortaleza.

    As coordenadas geográficas do afundamento publicada no "Aviso aos Navegantes" da Marinha do Brasil são: 03° 32,00S / 38° 31,00W. Em breve teremos imagens, aguardem!

    Com este afundamento temos, pelo menos, 7 naufrágios apenas na orla de Fortaleza!

terça-feira, 9 de março de 2010

Denúncia: Dinamite nos Naufrágios Cearenses!

    Todo e qualquer objeto encontrado no fundo do mar pertence a União. Isso significa que naufrágios e artefatos a ele relacionados são protegidos por lei e não podem ser retirados do mar sem autorização da Marinha. Essas medidas visam proteger o nosso patrimônio submerso de eventuais "piratas" nacionais ou estrangeiros.

    Os naufrágios, assim como os sítios arqueológicos em terra, são peças do quebra-cabeças da história marítima brasileira. Cada embarcação que foi ao fundo conta uma história e nos diz um pouco da época em que navegava. Quem eram seus tripulantes? Como viviam? O que transportavam? Porque afundou? Essas respostas são fundamentais para resgatarmos a história do nosso povo e construirmos a nossa identidade cultural. Além do valor histórico, muitos contam estórias trágicas em que vários marinheiros e passageiros perderam suas vidas. São como túmulos, onde homens e mulheres passaram seus últimos momentos. 

    É uma pena que no Brasil as leis não sejam aplicadas e fiscalizadas. Mergulhadores sem escrúpulos estão destruindo este patrimônio. Na década de 80 dinamitaram o Navio do Pécem a fim de ter acesso a sua carga de carvão mineral - SS Baron Deshmond, um cargueiro inglês afundado pelo infame U-507 durante a II Guerra Mundial. Hoje, pouco resta da estrutura original do naufrágio. O Vapor do Paracuru, um naufrágio sem identificação também foi dinamitado recentemente eliminando qualquer vestígio de sua identidade. Em 2009 o naufrágio Amazonas, na entrada do Porto do Mucuripe, teve o seu hélice serrado e removido. Os materiais removidos do fundo terão um desses destinos: ser vendido como sucata ou cair no esquecimento no canto de uma estante. Pouca gente sabe mas nossa história está virando sucata...

    Em um mergulho recente ao Naufrágio do Avião, um dos melhores pontos de mergulho de Fortaleza tive uma grande decepção. Os restos da estrutura do avião da FAB foi dinamitada, sua asa e hélice removidos. Mesmo o fato do naufrágio estar dentro dos limites do Parque Estadual Marinho da Pedra da Risca do Meio não impediu os criminosos. O que antes era um atrativo para o turismo subaquático do Estado, hoje não passa de um monte de ferros retorcidos sem identidade. Vale lembrar também que naquela aeronave quatro pessoas viveram seus últimos instantes... 

    Enquanto a legislação atual dificulta o trabalho de pesquisadores sérios os que não a seguem tem passe livre. E a nossa história continuará virando sucata...



Assista imagens gravadas em 2004 e 2010. Veja a diferença.



Leia mais sobre o Avião e outros naufrágios da costa cearense na Revista Decostop !

quinta-feira, 4 de março de 2010

U-164: Um Relato Sobre o Primeiro Submarino Afundado na Costa do Brasil Durante a II Guerra Mundial

     O submarino alemão 164, ou Underseeboat 164, foi o primeiro afundado na costa brasileira. O fato se deu em 6 de janeiro de 1943 quando o submarino foi avistado por Billie Goodell, um engenheiro de vôo, mecânico e canhoneiro oficial de um avião catalina norte-americano, enquanto voltava de uma missão. O U-164 afundou ao largo da costa do Ceará.

(Posição estimada do afundamento do U-164, US Navy.)      

Leia a seguir os comentários de Billie Goodell sobre ao fundamento do U-164:

     Você deve ter lido diferentes relatos sobre o primeiro afundamento realizado pelo nosso esquadrão [VP-83]. Bom, como era “meu avião" digo aqui como foi. Nós estávamos cobrindo uma área ao norte de um comboio de aproximadamente 50 navios. Quando estávamos ao largo da costa de Belém fomos rendidos por um outro esquadrão que veio nos substituir. Então pousamos em Belém para abastecer e passar a noite. O piloto era o lt. Ford” e o co-piloto o ltjg. Dawkins. Nos encontramos no avião na manhã seguinte o Sr. Ford perguntou a nós se queríamos voltar [voando] sobre a selva ou sobre o mar.
     Como não houve resposta ele decidiu no “cara ou coroa”. O resultado foi a rota sobre mar. Decolamos e seguimos para o sul. A tripulação estava cansada das longas horas que passamos no ar nos dias anteriores então dissemos a eles para dormir um pouco e descansar. Nesse meio tempo eu estava na estação posterior sentado próximo a metralhadora .50 [que ficava dentro do avião e atirava através de portinholas sob a asa].
Nós estávamos voando a 3.000 pés [cerca de 1000 metros] sobre mar aberto. Eu estava com um par de binóculos tentando ver a linha do horizonte, onde o céu e mar se encontram. O céu estava um tanto nublado, mas eu conseguia ver “pedaçinhos” de mar azul de vez em quando. Em uma dessa aberturas avistei um rastro branco e um submarino ao lado de onde estávamos. Chamei lt. Ford e disse que tínhamos um sub às 11 horas. Ele disse que não o tinha localizado ainda. Eu já tinha desamarrado a metralhadora quando fizemos uma curva suave à esquerda e pôs o [nosso] “Catalina 83P2” em um mergulho íngrime. 
     Ele [o piloto] o havia localizado e estava indo direto para a morte [do submarino]. Eu comecei a atirar com a metralhadora [da portinhola] que ficava sob a asa. Nós podíamos ver a tripulação no convés, a maioria estava tomando banho. Eles tentaram armar os canhões de convés, mas nunca conseguiram. Lt. Ford lançou duas cargas de profundidade uma de cada lado [do submarino]. Eu continuei atirando enquanto as bombas explodiam o submarino levantou a partiu-se no meio. Fizemos uma curva suave e eu continuei atirando.
     De repente uma mão no meu ombro me puxou e disse “Bill, você está matando os sobreviventes!”. O Sr. Ford desceu para cem pés e ficou voando em círculos [sobre os sobreviventes]. Um rapaz estava agarrado a um tanque de algum tipo e outro nadava em direção a ele. Havia alguns corpos na água, muito óleo e destroços. A água começou a ficar agitada. Passamos novamente sobre eles e eu joguei um bote salva-vidas pela lateral do avião. A correnteza o levou pra longe deles então voamos contra o vento e eu joguei o nosso ultimo bote. Ele se inflou e os dois homens subiram a bordo. Peguei uma lata d’água, amarrei um colete salva-vidas ao redor dela e joguei para eles. Ficou agitado e perdemos o bote de vista. Transmitimos a posição da balsa pelo rádio e seguimos para Fortaleza. Nós pousamos com aproximadamente 8 galões30,29 litros – de gasolina.
     Eu tinha atirado [acidentalmente] na antena [do avião] pela portinhola da sob a asa e nós tivemos que consertá-la.
     Lt. Ford fez reservas na cidade e nós todos fomos. Estávamos todos sentados em uma mesa grande comento o jantar da vitória. Ao final da refeição eu olhei pra cima e nunca vi tanto [medalhas de] latão.
Eu pedi atenção e todos nós nos levantamos. “Descansar e, por favor, sentem-se”. Era o Almirante Ingram (comandante da Marinha dos EUA durante a II Guerra) e sua equipe que manteve a palavra e voou até Fortaleza. A primeira coisa que ele disse foi: “Quem de voces é Goodell e Ford?”. Após apertar a mão de todos eles se foram.
     Levantamos-nos muito cedo na manhã seguinte e fomos para Natal. Os homens ainda estavam nas suas barracas então Ford me disse: “Vamos acordá-los!”. Ele pediu permissão à torre e para fazer a volta da vitória.
     Ele desceu para apenas 50 pés15 metros – e voou sobre as tendas, balançando as asas. Cara, que sensação! Os homens correram se esquivando tentando imaginar o que estava acontecendo!
     Depois soubemos que dois sobreviventes foram resgatados e estavam em Fortaleza. Mandamos um avião e os trouxemos de volta a Natal. Você tem uma foto deles embarcando no avião. Só então soubemos que tínhamos afundado o U-164.


Tradução livre
Marcus Davis Andrade Braga.


Notas
No ataque morreram 54 tripulantes do submarino e 2 sobreviveram.
As coordenadas geográficas para o afundamento são: 1º 58’S / 39º 22’W


Imagens
1- Mapa do Afundamento do U-164.
2- Billie Goodell e "seu avião" catalina 83P2.
3- Prisioneiros sendo transportados para Natal.


Fontes:

segunda-feira, 1 de março de 2010

Um Mergulho no Mar do Ceará - Foi tudo verdade




Foi Tudo Verdade
           por Augusto Cesar

            Eram pouco mais de três horas quando o telefone tocou. Já estavam na Washington Soares, avisa o porteiro para liberar a entrada. Valeu, vou me ajeitar. Fiquei esperando lá embaixo assistindo TV.
         Passamos parte do material para o meu carro e o Marcus; então seguimos em direção para a Barra Nova em Cascavel, onde iríamos pegar o barco para mergulhar no navio dos Remédios e na volta no Siqueira Campos.
         Chegamos entre o final da noite e início do dia, com cores que não costumo a ver. Estava ventando muito, o que logo me chamou atenção, até falei na hora isso com alguém. Embarcamos o material na batera e fomos a pé, margeando a boca do rio até o barco.
         O mestre ligou o motor e deu partida, nos sentamos os quatro um ao lado do outro no banco atrás da cabine na popa, pois era o único banco existente. O vento não havia cedido nem as ondas que estavam muito fortes vindos do oceano entrando na barra empurrando o barco para trás.
         De repente o Régis Doido grita: vem uma onda, e pula para frente, não houve tempo para mais nada, a água entrou de uma vez, e de uma vez saiu, deixando a sensação de pânico e ao mesmo tempo de alívio.
         Tomamos o rumo indicado pelo o GPS, que indicava primeiro o Siqueira, pois se o tempo continuasse como estava, voltaríamos dali mesmo, o barco estava sendo muito maltratado com aquele mar. Tínhamos que navegar por cerca de mais 8 km.
         As ondas foram abrandando um pouco e quando passávamos próximos ao Siqueira decidimos continuar para o Remédios. Era um naufrágio que não conhecíamos e sabíamos muito pouco sobre sua história; Como é incipiente a literatura sobre o assunto no Brasil!
         Sabe-se a data (1986), e os boatos, que estava transportando remédios (daí o seu nome), e que estava a serviço parece das Forças Armadas. Estava lá adormecido no fundo do mar com centenas ou milhares de peixes (não deu para contar) dentro, ao lado, em cima, por perto, de longe. Era um verdadeiro uma sensação maravilhosa lá no fundo do mar.
         Depois do primeiro impacto com uma visibilidade de mais de dez metros, fomos descendo e observando o estado em que se encontrava o navio, procurando no casco alguma pista do que pudesse ter lhe trazido ao fundo.
         Encontramos um casal de moréias em uma loca entre o casco e a areia, era um belo casal, continuamos e encontramos uma lagosta enroscada em um manzuá, o Marcus pegou a faca e soltou a moribunda.
         Nadamos para cima e entramos na cabine onde encontramos dois tubarões lixa, dormindo na sombra, de repente entra o Régis, parecia um filme, naquela profundidade só no peito, com seu arpão de onde tira parte de seu sustento.
         Após alguns minutos chegamos á proa da barcaça, e procuramos encontrar alguma explicação para parte frontal , que servia de rampa para desembarque, estava aberta. Não fazia lógica a princípio, ficamos ainda mergulhando até acabar o ar, foram 59 minutos lá embaixo.
         Levantamos a âncora e partimos pro nosso segundo mergulho, há mais de hora de viagem. Fomos almoçar e descansar, o dia já era tarde, e o cansaço era grande, fomos deitando em qualquer lugar do convés que houvesse para poder dormir.
         Começamos a montar o material, chegando era pular no mar e descer para o Siqueira. O Régis desceu primeiro, o Marcos logo depois para amarrar o cabo no naufrágio, o Luciano foi o próximo e eu fiquei por último, pois ajudei o Luciano com o seu material. Estava pronto para entrar no mar quando ouço um assobio, era o Marcus que dizia para não pular, o mar estava muito mexido não dava nada com mais de meio metro de distância.
         Desmontei meu material e ajudei ao dois a subir, o mergulho tinha sido abortado, íamos agora esperar o Régis que estava pescando. Esperamos mais um pouco e ele apareceu, disse que tinha visto um camurupim e ia tentar buscá-lo.
         Estávamos conversando distraídos quando o mestre grita e aponta: olha ele sendo puxado pelo peixe. Eu virei e vi aquela insólita situação, o Régis em cima d água, sendo arrastado contra a correnteza segurando no cabo. De repente ele para, passam-se alguns segundos quando salta inteiramente de dentro do mar aquele enorme peixe escamado, refletindo a luz do sol em toda sua extensão. Foi uma visão espetacular, o peixe deu mais dois saltos, mergulhou e escapou.
         Desta aventura temos os vídeos do mergulho já que fizemos só um. Do peixe só ficou o vídeo na memória.
         E se fosse verdade será que alguém ia acreditar.    

Voce encontra mais informações sobre essa expedição ao Naufrágio do Remédios nesta edição de janeiro de 2010 da revista trimestral DecoStop.


Texto:
Augusto Cesar

Fotos:
Marcus Davis