sexta-feira, 19 de junho de 2015

Ipupiara: A Lenda Indígena do "Homem Marinho"

Baltasar Ferreira mata o Ipupiara em História da Província de Sãcta Cruz a que vulgarmente chamamos Brasil, do cronista Pero de Magalhães Gândavo. (Fonte: Fantastipedia)

O homem sempre teve uma relação conflituosa com o mar: a mesma entidade que abençoava com o pescado poderia, sorrateiramente, tirar a vida de quem dela vive. Aqueles que vivem do mar criam uma relação muito intima com o fruto do seu sustento. O mar não é só aquele que abençoa, ele é lindo, vivo e um pouco temperamental. Sente-se as vezes uma perigosa confiança sobre ele, e é neste momento que pode-se baixar a guarda e cair nos braços do Ipupiara. 

Uma das lendas indígenas mais antigas diz respeito aos Ipupiaras ou "homens marinhos". Talvez a lenda fosse uma maneira encontrada para explicar o desaparecimento de pescadores e coletores na antiguidade. Ainda hoje admira-se quando um excelente nadador termina por afogar-se em alguma situação difícil e ditados populares como "Joelho, respeito. Umbigo, perigo." guiam nossas crianças contra os perigos das águas.

No passado não era diferente. Talvez uma das poucas lendas indígenas genuinamente brasileiras que diz respeito ao mar e as águas é a lenda o Ipupiara. Iara e Iemanjá são, possivelmente, derivações ou miscigenações de mitos da cultura negra e européia.

Segundo a lenda, os Ipupiaras eram monstros marinhos humanoides que podiam até sair da água para atacar aqueles que por perto estavam. Agarravam-os e os levavam para o fundo onde morriam afogados. Leia o trecho do Tratado Descritivo do Brasil por Gabriel Soares de Sousa em 1857:

"[...] não há dúvida senão que se encontram na Bahia e nos recôncavos dela, muitos homens marinhos, a que os índios chamam pela sua língua Ipupiara, os quais andam pelos rios d'água doce pelo tempo de verão, onde fazem muito dano aos índios pescadores e mariscadores que andam em jangadas, onde os tomam, e aos que andam pela borda d'água, metidos nela; a uns e outros apanham, e metem-nos debaixo d'água, onde os afogam; os quais saem a terra com maré vazia, afogados e mordidos na boca, nariz e na sua natura; e dizem outros índios pescadores que viram tomar a estes mortos, que viram sobre a água uma cabeça de homem lançar um braço fora dela e levar o morto; e os quais viram se recolheram fugindo à terra assombrados, do que ficaram tão atemorizados que não quiseram tornar a pescar daí a muitos dias; o que aconteceu também a alguns negros da Guiné; os quais fantasmas ou homens marinhos mataram por vezes cinco índios meus; e já aconteceu tomar um monstro destes dois índios pescadores de uma jangada e levarem um, e salvar-se outro tão assombrado que esteve para morrer; e alguns morrem disto (SOUSA, 1974)"
(retirado do livro Mar À Vista - Estudo da Maritimidade de Fortaleza de Eustógio Wanderley Correia Dantas, Editora Museu do Ceará)

Talvez a lenda do homem marinho fora criada para explicar por que excelentes nadadores podem inexplicavelmente desaparecerem nos rios e mares. O relato de Sousa poderia explicar também por que grupos de pessoas as vezes desaparecem de uma vez e o assombro daqueles que se salvam e a dificuldade que encontram em enfrentar seus medos.


Veja também
Ipupiara - Fantastipedia



Fontes
Folclore Brasileiro
Contos e Lendas: Iara
Mitologia - Brésil
Mar À Vista - Estudo da Maritimidade de Fortaleza de Eustógio Wanderley Correia Dantas, Editora Museu do Ceará

domingo, 14 de junho de 2015

Encontro de Mergulhadores do Mar do Ceará



Mergulhadores, Mergulhadoras e Seres Humanos!

Chegou o grande momento de nos encontrarmos, dividirmos as experiências e nos atualizarmos sobre o mundo sub, e os novos pontos para as próximas aventuras.

Sortearemos uma saída de mergulho para mergulhadores credenciados, além de revistas e brindes!
Contamos com a presença de todos na Quinta, dia 18/06 às 19:30 no Floresta Bar (Mapa)

Convide curiosos e amigos! Não deixem de ir.

"Quando vamos até o fundo do mar, descobrimos que ali jamais poderíamos viver sozinhos. Então levamos mais alguém. E esta pessoa, chamada de dupla, companheiro ou simplesmente amigo, passa a ser importante para nós.Porque, além de poder salvar nossa vida, passa a compartilhar tudo que vimos e sentimos. E em duplas, passamos a ter equipes, e estas passam a ser cada vez maiores e mais unidas. E assim entendemos que somos todos velhos amigos mesmo que não nos conheçamos. E esse elo que nos une é maior que todos os outros que já encontramos.
E isso faz com que nós mais do que amigos, sejamos irmãos. Faz de nós, mergulhadores." (Jacques Cousteau)

Então seja qual for o seu motivo, venha mergulhar conosco! Venha conhecer a turma!


O que?
XXXVII Encontro de Mergulhadores do Mar do Ceará!

Onde?
Floresta Bar, Av. Santos Dumont, 1788, Loja 01.

Quando?
Quinta-feita. 18 de junho, a partir das 19:30!

segunda-feira, 8 de junho de 2015

Como mergulhar em Fortaleza? Curso de Mergulho Básico: Perguntas e Respostas

Como faço para mergulhar em Fortaleza?
Para participar dos passeios de mergulho (saídas) organizados pelo Mar do Ceará é preciso fazer um curso básico de mergulho autônomo oferecido nas várias escolas de mergulho existentes no Brasil. O curso deve ser reconhecido por alguma certificadora internacional (PADI, SSI, CMAS, NAUI) e o aluno deve receber e portar uma carteira de identificação.

O que é uma certificadora de mergulho?
São organizações, associações ou empresas que desenvolvem programas e metodologias de treinamento para a prática mergulho. As maiores certificadoras participam de um conselho mundial de auto-regulamentação chamado WRSTC.

Estou na cidade de passagem e queria só fazer um mergulho de "batismo" (sem curso)...
Temos alguns opções para quem nunca fez curso e quer fazer um mergulho seguro acompanhado de um instrutor. Você pode fazer o mergulho a partir da praia, na lagoa de Itarema ou embarcado (apenas de março a maio).
No batismo de praia você fará uma aula teórica e uma aula de piscina antes de se aventurar em mergulho acompanhado de um instrutor na Praia do Aterrinho. Atingirá uma profundidade máxima de 8m e poderá ver peixes e lagostas.

No batismo na Lagoa de Itarema oferecemos transporte até a Lagoa (a 230km de Fortaleza) e lá faremos uma aula teórica, uma aula prática em águas abrigadas e um mergulho na lagoa com uma incrível visibilidade. A flora aquática é o que nos fascina aqui, "paredões" de algas tornam a paisagem surreal.

O batismo embarcado está disponível de março a maio quando os mares cearenses são calmos para a navegação. Uma aula teórica e uma aula na piscina são necessários antes de nos aventurarmos mar adentro para um mergulho acompanhando de um instrutor em recifes de coral ou naufrágio.

Sou mergulhador certificado, estou na cidade e quero mergulhar, como faço?
Você precisa verificar em nosso calendário se temos saídas agendadas para o período em que está (ou estará) na cidade. ou agendar um mergulho na Lagoa de Itarema. Se tivermos, entre em contato e efetue uma reserva através de depósito ou transferência bancária. Operamos com um mínimo de 5 mergulhadores. Também é possível fazermos saídas personalizadas com menos mergulhadores e mais mergulhos. Para saídas personalizadas entre em contato.

Onde são os melhores mergulhos?
Os melhores pontos estão onde está a melhor água. Existem recifes próximos da praia de todo o Estado mas a visibilidade pobre durante a maior parte do ano não facilita o mergulho. A 18km do Porto do Mucuripe em Fortaleza existe um Parque Estadual Marinho: um grande recife completamente submerso (não tem ilhas no local e a menor profundidade é 15m) com locais que parecem verdadeiros aquários. O local se chamada Pedra da Risca de Meio e lá existem cerca de 10 pontos catalogados onde a concentração de vida marinha é fantástica: cardumes diversos, peixes recifais, tartarugas, arraias, tubarões-lixa, lagostas, etc.

Não existem pontos mais perto?
Sim, mas a visibilidade mantém em torno de 3m na maior parte do ano. Mesmo assim o litoral cearense afunda rapidamente até cerca de vinte metros. A 5km do Porto do Mucuripe existe o Naufrágio do Titanzinho que está a 20m mas a água lá nem sempre é boa com visibilidade média de cerca de 4m devido à proximidade da costa.

Qual a melhor época para mergulhar em Fortaleza?
Os melhores meses definitivamente são março, abril, maio e junho. Neste período os ventos cessam e o mar fica tranquilo e propício à navegação. Agosto, setembro e outubro são os piores meses e durante essa época normalmente entramos em recesso. Isto porque os fortes ventos tornam o mar agitado e navegação difícil. Apesar disso em agosto normalmente a água é muito limpa. Dezembro, janeiro e fevereiro são meses incertos em que pode ventar muito mas a água pode limpar ocasionalmente.

Quanto tempo dura o curso?

Com uma carga horária média de 24 horas o curso básico pode ser feito em até quatro dias, mas as turmas convencionais oferecidas são realizadas em 8 ou 9 dias, com aulas a noite e mergulhos aos fins de semana.

Como são os mergulhos do curso?
Nas turmas convencionais são feitos quatro mergulhos a partir da praia a uma profundidade máxima de 10m com duração de 20 a 25 minutos cada.

E após o curso?
Após o curso básico é consenso entre as certificadoras que o mergulhador não exerça a atividade sozinho e não ultrapasse 18m de profundidade quando mergulhando sem a supervisão de um instrutor ou divemaster.

Após o curso posso participar das saídas organizadas por vocês?
Sim. As saídas, expedições e viagens são organizadas de acordo com o nível de treinamento exigido. A maioria são para mergulhadores nível básico, outras são apenas para mergulhadores que tenham feito o curso avançado além do básico.

Quanto custa um curso de mergulho?
Em janeiro de 2015 um curso básico pode custar até dois mil e quinhentos reais quando feito em Fernando de Noronha. Nas principais capitais brasileiras o Open Water Diver PADI varia entre oitocentos e mil e quinhentos reais.

Por que preciso fazer o curso para mergulhar no Ceará?
Ao longo do litoral do Ceará existem diversos recifes e naufrágios excelentes para a prática de mergulho. No entanto próximo da costa água que é verde não possui uma boa visibilidade durante a maior parte do ano. Portanto é necessário navegar mar adentro por até 10km onde o mar é azul e a visibilidade média anual é de 15 a 20m (considerada excelente para mergulho). Essa distancia e o tempo de navegação exigem um certo treinamento dos praticantes.

No curso não tem mergulho embarcado?
Depende da opção de curso que escolher. Mas devido à distância relativa dos pontos e as condições do mar na maior parte do ano é melhor para os alunos que tenham todo o treinamento antes de enfrentar a navegação para os melhores pontos. Anos de experiência nos mostraram que algumas pessoas podem sofrer enjoo quando estão embarcadas ficando incapacitadas de realizar etapas cruciais do treinamento. 

O mergulho embarcado é seguro?
Sim. Quando os participantes tem o treinamento adequado a atividade é segura e vale a pena. Planejamos cada detalhes das nossas operações em mar aberto de acordo com condições do mar, vento, lua, maré, etc. Se não for seguro abortamos a operação.





quinta-feira, 4 de junho de 2015

Expedição Navio do Pecém

Mergulhadores no canhão defensivo do Baron Dechmont.

Temporada de mergulho animada nos mares cearenses. Visitamos vários pontos de mergulho ao longo do nosso litoral (e fora dele). Em maio realizamos uma expedição ao Baron Dechmont, o famoso Navio do Pecém, um navio inglês que foi torpedeado durante a II Guerra Mundial por um submarino alemão e que se transformou nuns dos melhores naufrágios para mergulhar no Ceará.
Tubarão lixa e esponja.

Poucos são aqueles que visitaram e visitarão o naufrágio, esta foi a nossa terceira expedição (2011, 2012 e 2015). Isto pela sua distância da costa e profundidade. O local está a 30km da Praia do Pecém e a 54km de Fortaleza e exige mergulhadores bem preparados para enfrentar a navegação e a profundidade.

Apesar de ser mais distante de Fortaleza escolhemos esta cidade como ponto de partida. No mar a menor distância entre dois pontos nem sempre é uma reta, ou a menor reta. Saindo do Mucuripe teríamos o mar e o vento a nosso favor nos ajudando a alcançar o naufrágio. Partimos as 5:30 da manhã. Um pouco de chuva para incomodar os ânimos, mas nada que que atrapalhasse a energia e a vontade de mergulhar no Navio do Pecém. Navegamos durante quatro horas e meia e por incrível que pareça ninguém enjoou (quatro horas de mar e ninguém enjoar é fantástico nos mares cearenses). 
Cardume de Pampos

Chegamos sobre o ponto com sol forte e vento fraco e logo que entramos na água tivemos uma excelente surpresa: 35m de visibilidade, ou seja, víamos o naufrágio da superfície. E ele estava lindo e cheio de vida. Cardumes diversos (galos, guarajubas, pampos e parús) circulavam o navio, pequenos peixes bentônicos encantavam o lugar, grandes beijupirás circulavam à vontade. Uma grande arraia esparramada sobre os destroços revelando o real motivo para tantos beijupirás: os filhotes de arraias são muito apreciados por esses peixes. E logo ele apareceu, um mero grande e curioso que posou para as fotos. Tubarões lixa repousavam abrigados e indiferentes aos mergulhadores. Por bombordo do navio um grande jardim de enguias se mantém por lá. As enguias são assustadas, ficam apenas com a cabeça fora da toca e quando nos aproximamos elas se escondem, dezenas delas em pequenos buracos na areia. Para completar o cenário, grandes esponjas dão um charme ao destruído navio. Tudo isso em apenas um mergulho.
As caldeiras do Navio do Pecém

Após o mergulho subimos para descansar e eliminar parte do nitrogênio acumulado durante o nosso tempo submerso. Enquanto a tripulação do barco pescava, um golfinho passou próximo a nossa embarcação animando a possibilidade de um encontro no fundo.

Depois de uma hora e meia de intervalo de superfície mergulhamos novamente. E lá estava o azul maravilhoso com um lindo naufrágio no fundo. Assim que imergi avistei uma arraia xita que circulava nosso cabo guia. O navio está parcialmente destruído devido a explosão que o afundou e a anos de depredação por parte de piratas submarinos que vandalizam os naufrágios cearenses dinamitando-os para extrair metais nobres (cobre, bronze, latão) que são vendidos no peso em sucatas. Mas ainda podemos ver diversas estruturas do navio em si. A popa está bem preservada é possível contornar o leme. O canhão defensivo ainda está lá, apontando para o fundo. Roda do leme, caldeiras, e outras grandes estruturas ainda estão lá, um pouco camufladas por anos de colonização dos novos habitantes.

Saímos da água e navegamos rumo a Praia do Pecém como o planejado. A fim de evitar a longa navegação até Fortaleza desembarcaríamos os mergulhadores nesta praia onde uma van nos aguardava para nos levar de volta a cidade. Ao chegarmos nossa equipe de terra nos aguardava e desembarcamos às 16:30. 

O sucesso da operação se deu ao perfeito planejamento e sincronia da equipe, a alta qualidade e capacitação dos mergulhadores envolvidos, a avaliação de condições de mar, fases a lua, condições climáticas e a Deus que permitiu que nossa viagem fosse em  paz.



Donald MacCullam, o capitão do Baron Dechmont em seu navio.

O Baron Dechmont antes de se transformar no Navio do Pecém.

Croqui do Naufrágio feito em 2005 por Maurício Carvalho.

Mergulhador e cardume de parús

Mergulhadores no naufrágio. Muita vida.

A âncora reserva ainda está no convés do Baron Dechmont.

Esponjas cobrem o navio.

Cardume de Peixes Galo.

Guarajubas circulam o costado do naufrágio.

Mero no naufrágio. Esperamos que sobreviva aos pescadores e caçadores submarinos. Foto: Rita Salgueiro.

Cansaço pós mergulho!

O staff dormindo em qualquer canto. Foto: Rita Salgueiro.

Todo mundo feliz!
E o mero?
Após os mergulhos uma dúvida surgiu. Divulgar ou não a existência de um mero no local. Isto porque mergulhadores mal intencionados podem ir ao local com o proposito de pescar esse peixe. É um perigo real, mas esperamos que esta informação ajude mais a conscientizar do que a predação. Salvemos nossos mares.




Leia Mais:
Logística e Informações sobre Saída de Mergulho para o Naufrágio do PecémNaufrágio do Pecém: o afundamento do navio inglês Baron Dechmont e do submarino alemão U-507
U-507: Um Relato sobre o Afundamento do Submarino que "empurrou" o Brasil para a II Guerra Mundial
Agosto de 1942: Memórias da Guerra Submarina na Costa de Sergipe


terça-feira, 2 de junho de 2015

Proa e Popa: Você sabe a diferença?


Proa do Naufrágio do Titanzinho. A pequena embarcação pesqueira jaz sobre seu bombordo a 20m de profundidade em Fortaleza, CE.
Popa de um grande cargueiro ao lado de
um pequeno rebocador. Porto de Santos, SP.


Apesar de ser fácil de memorizar, muitas pessoas confundem.
  • Proa é a parte da frente de uma embarcação. Normalmente possui um desing a fim "cortar a água" verticalmente ou passar sobre a camada superficial.
  • Popa é a parte traseira. Normalmente é onde se localizam os lemes e o hélice (quando utilizado).




Proa do famoso Mara Hope em Fortaleza.
Afinada verticalmente para "cortar a água" 
Popa do Naufrágio Macau. O navio está invertido
portanto vemos os lemes na foto. Fortim, CE.